quarta-feira, 24 de julho de 2013

Tomé

Hoje o dia acordou mais frio que o normal, em Goiania, isso pra mim é presente. 

Na sala de espera de minha consulta médica, há algumas opções de distração: 
- poderia ver o papa em sua visita ao Brasil e se emocionar com a manifestação religiosa (dentro e fora da telinta e sim me emociono com a emoção alheia) 
- poderia jogar algum jogo idiota e intuitivo no celular 
- poderia olhar os rostos desalmados da sala de espera e da-lhes uma história de vida

E lógico foi o que fiz.  
 
O senhor na poltrona de frente, Aguinaldo deve ser o nome dele. Olhando para o horizonte, nunca gostou de médicos e nem sabe o que esta fazendo aqui, mas a esposa gorda Marilde, sentada ao lado insistiu tanto, que ele cedeu a consulta. Ela tem um ar de satisfação misto com preocupação. Ele cansaço. 

Aline é a mulher feliz com seu bebê recém nascido. Bem vestida e brincos longos, visita de rotina. Vai sair daqui e ligar pro marido o Carlos, engenheiro, que vai querer desligar logo: "Que bom amor, em casa você me conta melhor." 

Joaquim Santana, senhor de muita idade sem esperanças. Cada consulta é juíza de sua nova condição de vida. "Quanto tempo tenho doutor?" 

Heloísa, manca, coloca a mão no rosto e tem auto piedade. Não tem nada, nem dor na perna. Mas desde que foi deixada pelo marido procura doenças para ter assunto com vizinhos, amigos, e ate mesmo com os filhos. Ela morreu. Morreu em vida. Tá no médico errado, vai fazer terapia. 

E tem o Tomé, já chamaram o nome dele umas 10 vezes e ele não vem. 
Tenho muito do Tomé em mim, esse ser invisível, abstrato. Necessário conhecer, ver seu rosto. Necessário o auto conhecimento. Todos temos um ser invisível dentro de nós, pedindo pra emergir. Pedindo para ser chamado.